Saúde

Treino de Força em Mulheres – Mitos e Benefícios

O treino de força, conhecido popularmente como treino de musculação ou pesos, é uma forma de exercício físico presente na nossa sociedade há inúmeros anos, mas muitas vezes associado erradamente somente a pesos livres, máquinas complexas e cargas elevadas.
Como qualquer outra forma de exercício físico, o treino de força visa gerar adaptações positivas fisiológicas, endócrinas, entre outras, de modo a melhorar a aptidão física e saúde do ser humano, sem causar o comprometimento das mesmas.
Uma simples definição de treino de força será quando colocamos o nosso corpo em contacto com uma resistência, que se pode apresentar sob diversas formas como, por exemplo, pesos livres, elásticos, cabos e peso corporal, de forma a gerar uma contração voluntária, consciente e controlada do nosso músculo.
Como qualquer atividade exercida, o treino de força deve respeitar a individualidade de cada pessoa. Para tal, são os técnicos de exercício físico, devidamente credenciados, que o devem avaliar e prescrever o programa de treino mais adequado, tendo em conta as capacidades e objetivos do indivíduo.

Porquê a temática treino de força em mulheres?

O avanço tecnológico trouxe, sem dúvida, inúmeras vantagens ao dia-a-dia do ser humano, sendo uma das principais, o acesso rápido à informação. Todavia, muita da informação que nos chega às mãos não é a mais correta, algo muito comum nas atividades de ginásio, através da massificação das redes sociais, onde qualquer indivíduo executa vídeos de exercícios ou programas de treino milagrosos que o levam rapidamente a atingir os seus objetivos.
No que diz respeito à indústria do fitness, a população feminina é maioritariamente abordada com programas específicos, ligados na maioria das vezes a protocolos de treino de baixa intensidade, cargas leves e com um grande enfâse ao treino cardiovascular. Porquê? Devido a estereótipos que se construíram ao longo dos tempos, sem quaisquer razões científicas que os corroborem. Enunciemos alguns exemplos:

Estereótipo I: Homens têm mais força que as mulheres

Por norma, quando se analisam estudos sobre esta temática, é concluída tal premissa. Contudo, nas revistas e publicações que chegam até nós, apenas metade das explicações são dadas.
A verdade é quando se analisa a força relativa, ou seja, a força referente a um determinado grupo muscular, como por exemplo, os nossos quadricípites, não existem verdadeiramente diferenças entre géneros.
Nestes estudos comparativos, são utilizados protocolos avaliativos que não têm em conta as diferenças reais entre géneros, nomeadamente o tamanho e estrutura dos indivíduos, o facto de os homens terem níveis de testosterona mais elevados que as mulheres, entre outros fatores, que são ditados pela biologia do ser humano.
Assim, pode concluir-se que esta premissa é falsa, dado que os testes aplicados têm por objetivo a medição de uma parte corporal, uma força absoluta, e não os segmentos musculares de forma individual, a força relativa, onde quaisquer diferenças são mais ténues.

Estereótipo II: Mulheres devem ter métodos de treino diferente aos dos homens.

Citando um dos maiores especialistas no treino de força Tom Purvis (2018), um treino será tão bom quanto a qualidade individual de cada repetição.
Independentemente do programa de treino do sujeito e do seu objetivo, o indivíduo só irá concretizar as suas metas, e atingir o seu potencial, se houver rigor na execução do exercício prescrito.
Ou seja, um programa de treino não deve ser prescrito de acordo com o género dos sujeitos. Não existem exercícios milagrosos para desenvolver um grupo muscular. Um processo consciente, controlado, progressivo e respeitador da individualidade, e capacidade fisiológica do sujeito, deve ser sempre a primeira e principal norma a ter em conta.
Estes são apenas dois pequenos exemplos de pensamento desajustados, alimentados muitas vezes por empresas e entidades que possuem interesses financeiros em atingir uma indústria, que é muitas vezes desvalorizada no seu poder de mudar efetivamente estilos de vida.
Em forma de conclusão, não existem razões que suportem métodos e exercícios milagrosos, para uma população em específico. Qualquer exercício, seja ele de força ou cardiovascular, será desajustado, a não ser que seja baseado no conhecimento do corpo. O treino de força nos dias de hoje é rigorosamente estudado, e existem técnicos devidamente capacitados, para construir programas de treino apropriados, para que possa usufruir dos seus diversos benefícios, salientando-se a melhoria da composição corporal, o aumento do tónus muscular, a melhoria da densidade mineral óssea e redução do risco osteoporose, a melhoria dos desequilíbrios musculares, o combate a doenças metabólicas e crónicas como o cancro e doenças cardiovasculares, e o combate às doenças psiquiátricas, como a depressão.

Letícia Vasconcelos
Referências Bibliográficas
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Hurley, B. F., Hanson, E. D., & Sheaff, A. K. (2011). Strength Training as a Countermeasure to Aging Muscle and Chronic Disease. Sports Medicine, 41(4), 289–306.